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Nosso sentido de comunidade, de sociedade foi criado através da narrativa. As formas mais antigas de narrativa, como as fábulas, os mitos e as lendas, tinham uma forte função de criar uma compreensão de coletividade.

 

A fábula é uma história curta, com uma moral, sugerindo uma verdade ou um preceito. Na antiguidade, as fábulas serviam para criar um senso comum de cultura.

 

Os mitos estão ligados a fenômenos da natureza, heróis e divindades e utilizam a simbologia para explicar o que não  era compreendido por eles . Na antiguidade, os Mitos serviam para criar um senso comum de fé e das nossas origens.

 

As lendas, (do latim legenda, aquilo que deve ser lido), inicialmente contavam histórias de santos e heróis, em eventos acontecidos no passado, lutando contra um inimigo comum. Na antiguidade, as Lendas serviam para criar um senso comum de passado, uma História em comum.

 

Toda a narrativa conta com três elementos fundamentais: um narrador, um cenário e personagens. A própria História é  objeto de uma construção de um narrador, segundo o pensamento de Walter Benjamim e popularizada na expressão “ A História dos Vencedores”.

 

Para Benjamin essa concepção de história teleológica se mostra conivente com a elaboração de uma história que exalta os grandes heróis do passado, a “História dos Vencedores”, em detrimento de outras possibilidades narrativas e históricas que foram recalcadas ou silenciadas." (GÓIS FILHO)

 

Isso nos mostra que só conheçamos a História como ela nos foi apresentada ou narrada. O que ficou de fora desta narrativa,  deste  ponto de vista de um narrador ou de uma cultura, nós simplesmente desconhecemos.

 

E se os jornalistas são os historiadores do presente momento, é ilusão nossa crer que notícias sejam simplesmente notícias.  Michael Shudson  levanta a questão em News as Literature and Narrative, em que afirma que notícias são novidades e são também história, por isso o interesse do leitor em acompanhá-las, em saber seus inícios, seus desenvolvimentos e seus desfechos.

 

Há quem diga que a narrativa perdeu espaço e qualidade na sociedade contemporânea ( Mckee destina um capítulo inteiro em Story para o que chama de O Declínio  da História). Porém cada um de nós faz cotidianamente o exercício da narrativa: os comediantes, os atores, os rappers, os cineastas, os empresários, os jornalistas, todos nós, em nosso mais simplório dia-a-dia, utilizamos esta habilidade tão intrinsecamente ligada ao ser humano.  Conseguimos criar narrativas cada vez mais ousadas, personagens cada vez mais profundos, mas parecemos ter perdido a ligação da narrativa com a coletividade. As histórias parecem não querer nos mostrar o que nos une, o que nos torna iguais, mas sim exaltar o que nós separa, o que nos torna diferentes. Nosso desafio, como os modernos contadores de história é propiciar uma experiência de compartilhamento e de pertencimento as luzes das fogueiras modernas, sejam elas telas de cinema, tv ou computadores para refletirmos enfim, nossa própria sociedade.

 

 

 

GÓIS FILHO, Benjamin Julião. Na contra-mão da História: um olhar das Teses sobre o conceito de história de Walter Benjamin.

Visto em: http://www.uern.br/outros/trilhasfilosoficas/conteudo/N_03/II_1_art_6_GoisFilho.pdf

 

SHUDSON, Michael. News as Literature and Narrative

 

MCKEE, Robert. Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiros. 1ed., Curitiba: Arte&Letra, 2006

Tudo é história

Ninguém sabe quando a primeira história foi contada. E mais importante do que isso, que história foi essa que reuniu uma comunidade ao redor de uma fogueira pela primeira vez. A história não os aproximava apenas fisicamente, também criava um senso comum, mostrando que os medos, angustias, emoções, esperanças, não eram apenas individuais, mas coletivas.

 

A história foi descrita pelo dramaturgo e ensaísta  Reynolds Price:

 

"A necessidade de contar e ouvir histórias é essencial para a espécie Homo sapiens - em segundo lugar na necessidade depois do alimento e antes do amor e abrigo. Milhões sobreviveram sem amor ou sem casa, quase nenhum em silêncio; o oposto do silêncio leva rapidamente para a narrativa, e o som de história é o som dominante de nossas vidas, desde os pequenos relatos de acontecimentos do nosso dia até as vastas construções incomunicáveis ​​dos psicopatas."

Por Jaqueline M. Souza

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