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  • Marcos Hinke

Exercício Nº7 - Leitura e análise de elementos em Parasita


"Você ainda está meio na superfície, então há essa esperança e esse sentimento de que você ainda tem acesso à luz do sol e ainda não caiu completamente no porão. É essa estranha mistura de esperança e esse medo de que você possa cair ainda mais. Eu acho que isso realmente corresponde à maneira como os protagonistas se sentem." - Bong Joon-ho

Ler roteiros é um dos exercícios (e prazeres) mais eficientes para se aprender como construir uma narrativa. Por isso, no exercício de hoje, propomos a leitura de um dos roteiros mais elaborados do cinema recente: Parasita. Obviamente, também sugerimos algumas questões para apreciar o roteiro de forma ainda mais guiada.


Bong Joon Ho é um diretor que conduz milimetricamente o ritmo de seus filmes, e sua rigidez estética aparenta dar uma atenção microscópica a cada detalhe visto em cena. Em Parasita, ele consegue navegar entre diferentes tons dramáticos, que vão desde a sátira, passando pela comédia, pelo suspense aterrorizante e pousando no drama social.

"A mesa do homem mais pobre e seus pertences. Quatro anos de sua vida arraigados nesta mesa." - Bong Joon-ho

Completamente surpreendente em seu desenvolvimento, o roteiro de Bong Joon Ho e Han Jin Won é engenhoso em sua construção narrativa e na abordagem de seus temas através de uma alegoria incisiva sobre desigualdade social e as mentiras coletivas que nos permitimos acreditar.


Porém mais do que apenas bem construído, Parasita é riquíssimo em texturas. E nesse sentido, tanto o filme, quanto o roteiro, são uma aula de narrativa, por conta da riqueza de sentidos de percorrem todo o filme. Apesar disso, é impressionante observar que mesmo cheias de detalhes, as páginas do roteiro não são inundadas com descrições excessivas. Ou seja, obtem-se a complexidade com o simples. Aqui, o micro existe para contar o macro.


É um belo estudo para pensar em como um roteiro pode ser enriquecido com milhares de camadas quase sempre esquecidas quando falamos em roteiro, desde a forma como é escrito, como guia ( e como desvia) nossa atenção, a mise-en-scene aplicada a escrita e até as emoções que provoca.



Aqui, propomos alguns pontos para dar uma atenção especial durante a leitura do roteiro:


1) Como a mise-en-scene é desenhada no roteiro para expressar sua proposta como discurso e arco dos personagens? Elementos como cenários, luz, encenação estão descritos no roteiro? Como? O que geram de significado sobre a trama?


2) Que elementos/objetos são repetidos no roteiro a ponto de se tornarem motifs/sistema de imagens que representam o tema? Pense inicialmente em janelas e escadas, mas que outros elementos podem ser encontrados?


3) No primeiro ato, como é criada a dimensão espacial da casa e para localizar o leitor durante a leitura?


4) Existem 5 cenas em que a família Kim está reunida, em diferentes momentos da trama até o midpoint. O que eles fazem em cada uma dessas cenas e onde estão? Como cada um delas demonstra a progressão da trama?


5) Como o roteiro mantém o leitor atento e engajado na ação, mesmo com tantos personagens executando ações paralelas? (Atenção especial a sequência que começa na cena 99, quando os Kims descobrem que os Parks estão voltando mais cedo para casa e eles precisam se safar da complicação que se meteram)?


6) Apesar de rico em detalhes, quantas linhas são gastas para descrever cenários e objetos? Que cuidados os roteiristas tomaram para manter o roteiro conciso e não tirar o foco da ação?


7) Observe como o roteiro consegue ser poético, muitas vezes abrindo mão da descrição direta da ação, preferindo passar com precisão o tom e o sentimento do momento, mais do que necessariamente a ação.


A nossa tradução foi feita a partir do roteiro já traduzido em inglês e disponibilizado oficialmente durante o período de disputa para as premiações americanas.


Você pode acessar o roteiro de Parasita traduzido para o português aqui.


Boa leitura!!


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