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Curtas, roteiros e roteiristas: entrevista com indicados ao Prêmio do Cinema Brasileiro- parte I


Nada de Gabriel Martins

Sim, curta tem roteiro!!! E a seleção do primeiro turno do Grande prêmio do Cinema Brasileiro mostra quão vasto o curta-metragem brasileiro pode ser. São diversos estilos, linguagens e processos de escrita entre os 59 selecionados. A coletânea é um apanhado interessante sobre a produção curta-metragista brasileira que circulou e ganhou prêmios nos festivais mais importantes do país e do mundo nos últimos anos.

O roteiro ainda envolve dezenas de fantasmas que insistem em miná-lo e relegá-lo a um não-lugar na criação artística do cinema brasileiro. Apesar da recente valorização da área e do discurso recorrente da necessidade de formação, não existe uma compreensão do roteiro como ofício, mas mais do que isso, como forma legítima e artística de expressão. E se no Brasil, a gente já fala tão pouco sobre roteiro, quando chegamos em roteiro de curta-metragem chegamos em um campo completamente esquecido de nosso cinema.

Por isso, achamos que seria uma ótima oportunidade para conhecer alguns jovens roteiristas e ler seus roteiros que concorrem a essa premiação. A seleção inclui curtas de ficção, documentários, híbridos, animações, documentários em animação, etc. Uma fonte rica de estilos e estéticas distintas que tem em comum apenas a limitação de tempo. Selecionamos alguns títulos entre os mais de 50 indicados, justamente tentando compor um painel que trouxesse parte diversa dessa seleção. E para conhecer esses roteiristas e suas obras, conversamos com eles sobre seus processos de escrita. A proposta é uma entrevista simples, mas que discutisse o que costuma ser indiscutível, o roteiro e o processo de escrita de curta-metragens. Esse post será separado em partes, como uma série, e hoje apresentamos a parte um com os primeiros entrevistados, seus filmes e roteiros. Uma raríssima oportunidade de ler roteiros de curtas nacionais produzidos e premiados.

Muito obrigada a todos os entrevistados! Sabemos que é um processo de exposição a que muitos realizadores não estão inclinados e a boa vontade de todos os realizadores aqui presentes, que doaram seu tempo e atenção, além do acesso a seus roteiros, só nos enche de esperança em audiovisual brasileiro repleto de vontade de doar e compartilhar.

O Porta Curtas está com todos os selecionados disponibilizados para streaming e votação. Cada entrevista conta com o link para assistir ao curta e o link para download do roteiro.

Então, assistam os curtas, leiam os roteiros e aproveitem!!

Boa sessão e boa leitura.

DE TANTO OLHAR PARA O CÉU GASTEI MEUS OLHOS

Assista ao filme aqui

Gênero: Ficção Roteiro: Nathália Tereza Diretora: Nathália Tereza Duração: 25 min Ano: 2017 Local de Produção: MS Sinopse: O pai de Luana e Wagner envia uma carta após anos de abandono. Wagner acredita que o pai pode ter mudado. Luana não.

Nascida em 1988, cresceu no Centro-Oeste Brasileiro. Nathália Tereza é diretora e roteirista. Dirigiu os curtas “A casa sem separação” (2015), “A outra margem” (2015) e “De tanto olhar o céu gastei meus olhos” (2017). Desenvolve seu primeiro longa metragem.

TN:Que ideia deu origem ao que se desdobrou no filme? Qual foi seu ponto de partida para a criação de De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos?

Nathália Tereza: Os curtas que eu fiz, parti de experiências próprias. Às vezes essas experiências são doloridas ou de alguma maneira não quero acessá-las tão diretamente nos filmes. Eu me afasto até um certo ponto e começo a pensar em personagens que não sejam um alter ego direto. Então basicamente nesse curta eu parti da minha experiência com meu pai e muito da minha relação de intimidade com meu irmão. Meu desejo era fazer um filme de irmãos e como eles se afastam aos poucos conforme amadurecem emocionalmente.

TN: De onde veio o título?

Nathália Tereza: O título é uma estrofe de uma canção que gosto muito: ‘Perfeito Amor’ do Elton Medeiros e Paulinho da Viola que é sobre uma expectativa de um amor perfeito, desilusão. É como olhar e querer algo muito belo, mas que se gasta... que cansa. A partir da estrofe criei sentidos outros que cabiam para o filme e o conceituei muito numa relação de olhar e do que não se consegue dizer.

TN: Qual o maior desafio em escrever um curta-metragem?

Nathália Tereza: É justamente ser um curta-metragem. Eu tenho muita dificuldade. Os três curtas que dirigi tem todos 25 minutos. Tenho dificuldade de concisão.

Primeira página do roteiro de "De tanto Olhar o Céu Gastei meus Olhos" de Nathália Tereza

TN: Você pode contar um pouco sobre o processo de escrita do filme? E sobre o desenvolvimento dos personagens?

Nathália Tereza: O processo de escrita é integrado com o processo de direção, já que até o momento não escrevi roteiro para outras pessoas. Escrevo pra me desafiar como diretora e como diretora me desafio no roteiro. Especificamente no “De tanto olhar o céu gastei meus olhos” eu tentei ter maior controle na escrita e no filme todo. Eu conceituei muito o filme. No roteiro, há cenas que foram filmadas e não entraram no corte final, porque elas eram redundantes. Mas eu estava com essa vontade de aprendizado próprio como roteirista e quis colocar as cenas indo para a frente no desenvolvimento dos personagens. Também conceituei o filme a partir da luz da moto, do asfalto da cidade e da fumaça. A fumaça do banheiro uma barreira entre os irmãos, a fumaça da moto uma separação definitiva entre eles e que havia uma ressignificação quando a pessoa assistisse a cena final do filho se expressando pela sua moto: uma fumaça de dor e desapontamento com a vida. Existe um outro texto que eu escrevi cena-a-cena sobre as entrelinhas do filme e outras coisas conceituais para ter uma comunicação mais ampla com a equipe. Funcionou nesse curta, não sei se farei isso novamente.

TN: O que você aprendeu escrevendo ou fazendo o De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos e que pode ser uma boa dica para os que querem entrar no mundo do curta-metragem?

Nathália Tereza: Penso diariamente que é tentar encontrar maneiras de fazer filmes que não sigam o método de produção tradicional, mas um método que sirva para você. Isso também implica em buscar uma voz própria e fazer cinema com tesão. Sem tesão não há solução nem revolução.

TN: Nossa, pergunta padrão nas entrevistas, qual sua/seu roteirista favorita/o? Por que?

Nathália Tereza: Me dei conta de que não tenho roteirista favorita, leio poucos roteiros. Leio muito literatura e vejo filmes. Acho que leio mais até do que ver filmes.

TN: Qualquer outra coisa que queira comentar?

Nathália Tereza: Falei demais já!

OCEANO

Assista ao filme aqui

Gênero: Animação Diretor: Renato Duque Roteiro: Felipe Santo, Renato Duque Duração: 15 min Ano: 2017 Local de Produção: SP Sinopse: Luna vê alguém se afogando na oceano e passa a se questionar: deveria usar seus poderes e tornar-se uma super heroína?

Felipe Santo é diretor, roteirista e produtor, formado pela ECA-USP. Desde 2016 trabalha junto à produtora SANCHO&PUNTA. Atualmente desenvolve "Bicha Morta", seu primeiro longa-metragem como diretor.

Renato Duque é formado em Audiovisual pela ECA-USP com a direção do curta Oceano. Trabalha como animador e desenvolve projetos para cinema e televisão.

TN: Que ideia deu origem ao que se desdobrou no filme? Qual foi seu ponto de partida na criação da animação Oceano?

Felipe Santo: O filme começou com a proposta de uma animação sobre um grupo de garotas, uma ideia do Renato de fazer algo que fosse visualmente interessante e que dialogasse diretamente com nossos interesses. O caminho para que essas garotas virarem super-poderosas foi quase natural, porque tanto eu como o Renato gostávamos muito de histórias de super-heróis, mas nunca tínhamos escrito nada a respeito, acho que pelo simples motivo de parecer complicado demais, algo que a animação facilitava em muitos aspectos.

Renato Duque: Eu tinha claro querer fazer um filme com uma protagonista “anti heroína”, que fosse introspectiva. Também sabia que a água desde o começo seria um elemento da história. Conversando sobre o que gostávamos e trazendo a vontade mútua de um filme de super heróis, a água surgiu naturalmente como o “poder” que traduz a personalidade da Luna, a protagonista.

TN: Qual o maior desafio em escrever um curta-metragem? E uma animação?

Felipe Santo: Pra mim o maior desafio começa com entender do que é você quer falar, e como encontrar as ferramentas para executar suas ideias. É importante entender que o curta não é só um espaço de aprendizado e teste, mas também uma plataforma muito importante de criação, ainda que a estrutura seja quase sempre pequena e que demande de você muita vontade pra funcionar.

Renato Duque: No caso de ser animação, senti que a maior dificuldade era escrever muitas soluções que eram visuais. Por mais que nos entendêssemos, precisávamos sempre fazer concepts, esboços e mostrar referências para explicar as propostas de cena um para outro. Na hora de apresentar o roteiro para a equipe, era impossível não ter uma “bíblia” de acompanhamento visual, mostrando como estávamos imaginando as personagens, os cenários e o clima do curta.

TN: Você pode contar um pouco sobre o processo de escrita do filme? E como foi o processo de escrevê-lo em dupla?

Felipe Santo: A gente tinha uma relação muito próxima, moramos juntos nos dois primeiros anos da faculdade, então rolava uma boa facilidade em lidar com o outro, o que pro filme foi muito bom. A gente trabalhou intensivamente por alguns meses, em encontros que viravam a madrugada, e independentemente também, pra depois compartilhar as cenas que tínhamos escrito. Acho que a versão do argumento que virou o filme foi a terceira, depois de muito pensar e reescrever sobre as mesmas personagens em situações e tempos muito diferentes. Foi importante pra gente ter essas outras versões de um mesmo grupo de personagens, porque de algum jeito construiu um universo todo novo na nossa cabeça.

Renato Duque: Também tínhamos ideias muito diferentes para várias soluções de cenas, e o conflito ajudou muito o filme. Se eu tinha uma ideia na cabeça, precisava deixá-la redondinha para que o Felipe conseguisse visualizá-la. Ao mesmo tempo, outras cenas nasceram quase prontas, de uma vontade mútua, como a cena da Luna submersa no chuveiro - ela estava presente desde a primeiríssima versão, é algo que nós dois víamos com clareza, a Luna “mergulhada” em seu poder. Além desse jogo de conflito e encontro com o co-roteirista, momentos chaves foram muito influenciados por conversas com a equipe. Desde o começo tínhamos um grupo de amigas muito presente na concepção do filme, e conversar com elas sobre as personagens foi fundamental para deixar o filme mais complexo. No geral, o processo ao todo foi longo, cansativo, e exigiu muita paciência. Mas é recompensador quando bate aquela sensação de “é isso!” - no caso do Oceano, foi quando percebemos, em uma das versões do roteiro, que as protagonistas teriam poderes, mas não seriam super heroínas.

Primeira página do roteiro de "Oceano" de Renato Duque e Felipe Santo

TN: O que você aprendeu escrevendo ou fazendo Oceano e que pode ser uma boa dica para os que querem entrar no mundo do curta-metragem?

Renato Duque: No que se trata de ideias, um “conselho” que tento sempre me fazer lembrar é que, por mais “sólida” que ela esteja em sua cabeça, ela sempre poderá se tornar mais concreta. Se você tem um insight, ele pode se tornar um rabisco no caderno. Esse rabisco pode ser escrito dentro das regras de escrita de roteiro, e pronto, você já tem um pedaço de cena. Se for animação, a imagem que a cena evoca pode se tornar mais do que uma descrição e virar um desenho. E esse desenho, no começo simples, pode ficar complexo em novas refações… E aí por diante. Às vezes achamos que não temos boas ideias, mas na verdade o material já costuma estar em nosso imaginário, e colocá-las no papel pode ser o necessário para avançar, transformá-las em algo especial. Além disso, ter material para mostrar é o primeiro passo (e um dos mais difíceis!) para conseguir angariar equipe e se inscrever em laboratórios ou editais de curta-metragem de animação.

Mas acho que o principal conselho é: não ouça tanto os conselhos dos outros! Rs

Felipe Santo: Acho que como um conselho - que é obviamente pra mim também, sempre - é sempre aquilo de não ter medo de se aventurar, de testar coisas novas, de começar tudo do zero. Às vezes você consegue escrever algo interessante e que valha a pena ser feito logo de cara, mas às vezes você pode demorar pra encontrar, e tudo bem também.

TN: Nossa pergunta padrão nas entrevistas, qual sua/seu roteirista favorita/o? Por que?

Renato Duque: Não tenho um roteirista favorito, mas posso mencionar o Satoshi Kon, diretor e roteirista de animação, que consegue conciliar noções de dramaturgia e montagem do cinema tradicional com sua técnica de animação. Acho seus filmes maravilhosos. Crescendo sempre tive um carinho pelos roteiros da Diablo Cody, de “Juno” e “Garota Infernal”, e do Wes Craven (série “Pânico”). São escolhas inusitadas, mas são filmes que me vêem à lembrança pela força dos roteiros - têm sempre uma personalidade forte, ao mesmo tempo que mantém uma sensação jovem, divertida e irônica, algo que tentei com “Oceano”.

Felipe Santo: Eu também não, acho muito difícil escolher alguém, especialmente um só. Mas pra pensar numa galera que eu admiro, acho que citaria aqui o Harmony Korine, que tem essa relação com juventude e uma visão de cinema que me interessam muito, como em “Spring Breakers” e “Kids”, por exemplo; a Tina Fey, que deu pra gente “Meninas Malvadas”, que é uma referência para uma vida inteira, e “Unbreakable Kimmy Schmidt”, das obras mais engraçadas e carismáticas que já vi; e Josh Thomas, de “Please Like Me”, série australiana que conseguiu me conquistar de verdade. Acho que esse pessoal reúne pra mim um conjunto de visões e de potências que são referências muito importantes pra mim hoje, e que dizem muito sobre o tipo de cinema que eu tenho vontade de fazer.

TN: Qualquer outra coisa que queira comentar?

O roteiro sofreu muitos cortes e mudanças ao se transformar em uma animação. Existem muitas cenas que não saíram do papel, e outras soluções encontras à medida em que desenhamos.

Pode ser a versão final do roteiro, mas é de fato apenas uma etapa inicial do longo processo fílmico.

NADA

Assista ao filme aqui

Gênero: Ficção Diretor: Gabriel Martins Roteiro: Gabriel Martins Duração: 28 min Ano: 2017 Local de Produção: MG Sinopse: Bia acaba de fazer 18 anos. O final do ano se aproxima e com ele, o ENEM. A escola e os pais de Bia estão pressionando para que ela decida em qual curso vai se inscrever. Bia não quer fazer nada.

Gabriel Martins é formado em cinema pela Escola Livre de Cinema ( Módulos I e II) e Bacharel em Cinema e Vídeo pelo Centro Universitário Una. Crítico e um dos fundadores do site Filmes Polvo e sócio-fundador da Filmes de Plástico.

TN: Que ideia deu origem ao que se desdobrou no filme? Qual foi seu ponto de partida na criação do curta Nada? E quem veio antes a Bia ou a trama?

Gabriel Martins: Um dia veio uma imagem na minha cabeça de uma menina respondendo em uma sala de aula que não queria fazer nada. Foi bem direto e dessa forma. A partir daí, o roteiro se abriu para as consequências e desdobramentos dessa resposta. Foi bem simples assim, a imagem desta personagem e o que esse questionamento significava. Bia veio antes da trama.

TN: Qual o maior desafio em escrever um curta-metragem?

Gabriel Martins: Saber sintetizar ideias e tornar personagens e narrativas interessantes. Também, traduzir o sentimento que provocou aquele projeto de uma forma profunda, que consiga ir além. Vejo muito também a potência do roteiro como um mecanismo de organização geral de ideias para algo que vai se desdobrar muito a partir de ensaios, pesquisa de locações, filmagens e obviamente montagem.

Página quatro do roteiro de "Nada" de Gabriel Martins

TN: Você pode contar um pouco sobre o processo de escrita do filme?

Gabriel Martins: Foram vários estágios. O primeiro foi para o edital em questão. Já havia um bom esqueleto e daí fui ajeitando as arestas para que aquela ideia pudesse ser passada da maneira mais clara possível. Após aprovado, eu tive um processo de rever o que eu pensava naquele momento e isso foi tornando o roteiro mais aberto, com menos certeza e menos respostas. Quando a Clara Lima topou fazer o filme eu voltei a reescrever o roteiro pensando nela, na forma de falar e no que ela trouxe para a personagem. A montagem, que durou um ano, foi uma nova reescrita tentando deixar a história menos redundante e com mais ambiguidade.

TN: A Filmes de Plástico tem um imenso know how em curta. O que você aprendeu escrevendo ou fazendo Nada e que pode ser uma boa dica para os que querem entrar no mundo do curta-metragem?

Gabriel Martins: Aprendi que é fundamental se esforçar pra, mesmo em um curta, ter personagens com várias dimensões. Acho essencial trazermos figuras para os filmes que correspondem mais a dúvidas do que certezas. Falo não apenas de romper estereótipos mas colocar o espectador em um lugar de posicionamento incerto, que cave generosidade nas leituras para discutirmos a vida de uma forma mais ampla e menos exata.

TN: Nossa, pergunta padrão nas entrevistas, qual sua/seu roteirista favorita/o? Por que?

Gabriel Martins: Acho difícil essa pergunta pois na maior parte dos casos vemos um filme e não um roteiro. O roteiro que achamos que vemos é um produto muito coletivo e o mais difícil de afirmarmos quanto uma feitura isolada. Também, tenho quase nenhuma prática de ler roteiros de filmes que gosto. Vou responder, portanto, sobre uma figura que vejo o trabalho de roteiro de perto que é o André Novais Oliveira, meu sócio. Acho um dos melhores roteiristas do Brasil.

TN: Qualquer outra coisa que queira comentar?

Gabriel Martins: Hoje penso muito o trabalho de roteiro e gasto muito mais tempo nele do que eu gastava antes. Valorizo muito o processo de realização do filme, improvisos, acho que a magia acontece mesmo ali. Mas penso hoje que o desenvolvimento cuidadoso de um esqueleto leva a uma filmagem inclusive mais livre, com mais segurança para experimentos e menos trabalho de montagem. Penso que é legal ver esse ofício de forma leve, se divertindo com o universo ali criado.

Fiquem de olho para a parte II da série!!

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